Verde Oliva
Quando fiquei sabendo que iriam inaugurar uma rádio do Exército em Brasília eu não gostei nem um pouco da ideia. Naquela época eu ouvia muito rádio, e mesmo sabendo que eu não era obrigado a ouvir a referida emissora, e toda e qualquer pessoa tinha o direito de dar ou não audiência para a Verde Oliva FM. Para mim não adiantava, o meu pré-conceito já estava formado e uma radio militar era só o que faltava, ou melhor, o que não não faltava.
Eu imaginava que uma rádio do Exército Brasileiro iria ser uma extensão dos quarteis na casa dos civis, mesmo sendo eu militar à época. Pensei que a programação seria de entrevistas com oficiais generais o dia inteiro, só se falariam em militarismo e abririam brechas para fazer o povo engolir e sentir saudades do remime que governou o país por duas décadas. E tudo isso financiado com o dinheiro público. Na minha concepção, a programação musical seria basicamente hinos e canções militares, um perigo à sociedade.
Quando fui ouvir a "rádio do Exército" em 2002, ano da sua inauguração, confesso que me surpreendi. Havia ali conteúdo diversificado, boa programação musical, e a coisa que menos se ouvia falar era militarismo. Era uma rádio com conteúdo cultural e educativo, tocava canções que foram ou seriam censuradas pela governo militar. A Verde Oliva era uma rádio que fugia dos padrões das novas emissoras da capital, voltadas apenas aos modismos musicais daquele novo começo de milênio. Tinha lá o momento cívico, algumas publicidades específicas, mas isso é muito pequeno perto do monstro que eu pensei que fosse surgir.
Hoje, mais de uma década depois da inauguração da Verde Oliva FM 98,7, não tenho muito tempo para ouvir rádio, mas continuo ouvindo a emissora de responsabilidade do Exército Brasileiro porque ela continua com a programação de qualidade. Isso me leva a pensar no preconceito em todas as suas formas. Se dependesse só da minha opinião uma das minha rádios preferidas jamais estaria no ar. O que me leva a entender Raulzito quando dizia: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."